Sob As Ruínas Da Cidade



Guio-me contra a profecia que criei
Sem querer,
Quando nasci predestinado a ser
O sucessor do rei
E viver de cobaia da tua lei
Sem poder pra coagir o meu agrado.

Motivado pela honra que encontrei
Misturada entre poemas que guardei
E o lixo da cidade,
Incorporei, por teimosia,
Vontade própria à minha intuição.

Se me perguntas quando aconteceu
Sinceramente, não lembro não!
Foi crescendo em mim um novo eu
Que cultivei com muita estimação.

Tornou-se gigante em meu corpo,
Meu semblante já era outro
E o meu passado quase louco
Quase não me reconheceu

Foi então que um anjo torto
Veio ler a minha mão.
Disse que mudei meu caminho
E precisava de uma nova previsão.

Mas eis que eu disse ao anjo:
Não quero ver meu novo destino
Pois teimaria com ele também.
O anjo foi embora sorrindo
Desapareceu no além.

De novo na cidade,
Rodeado por suas casas,
Encontrei uma abertura
E em consciente loucura
Fiz minhas próprias asas
Desobedeci às placas
Que apontavam meu caminho.
De volta pra falsa realidade
Libertei meu horizonte da clausura
Arranquei a censura da minha verdade
Criei ironia na tua arte
Voei!
E vi de cima toda a cidade.
Descobri, enfim.
Ela estava antes
Desabada sobre mim.

E sabe? Acho até engraçado
Criticar o que todo mundo aceita calado
Meu método é minha obra-prima
E tua ignorância me fascina
Pois também nasci cego assim

Que bom eu não quis isso pra mim
Mas sim, andar contra a profecia
Que todo mundo, sem querer, cria
Quando nasce imerso nessa psicologia.

Holofotes acesos...
A verdade:
Humanos vivem presos
Sob as ruínas da cidade.

(NOGUEIRA, André)


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