A Menina Da Triste Figura



Abri o jornal pra ler o noticiário,

As idiotices desse mundo burguês.

Falava do novo carro caro na página três

E, na seis, do acidente com aquele empresário.


Peguei a camisa branca em cima do armário,

Você sabe, a mesma que usei daquela vez.

Gosto dela, foi minha mãe quem fez

E me deu no meu ultimo aniversário.


Como de costume olhei o calendário.

Nossa! Era um dia comum de qualquer mês.

Eu era alguém, ou um pouco menos talvez.

Sair para pensar era meu remédio diário.


Dobrei a esquina e fui muito distante.

Passei por onde todos os caminhos se tornam um

E seguindo adiante,

Era um lugar incomum,

Mas bem aconchegante,

Chamava-se Lugar Nenhum.


Personagens em caricatura,

Todos tipos de cor, alma e altura,

Tornei-me parte dessa mistura

E esqueci meu eu de estimação.


Eu sei, parece loucura,

Mas no mundo e sua imensidão

Foi uma menina da triste figura,

Que profetizou minha missão:


-Enfrenta teus medos com bravura,

Teus ombros suportam a pressão.

Veste e honra a tua armadura,

Pois é da queda que nasce ascensão.


E este é o segredo da minha aventura,

Ela era o espelho da minha reflexão.

Não adianta fugir da luta,

Há sonhos e medos em toda direção.


(NOGUEIRA, André)


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