Desprendeu-se do corpo inanimado
A insubstituível centelha ardente,
Que crepitava como se fosse diabo
Na inércia da ilusão do inocente.
Nunca mais foi aceso o candelabro
E no preto, clareou-se a mente,
No branco, os olhos o tornam viciado,
Quem só pisa onde vê, não sente.
O espírito que cresceu debilitado,
Mantido em cativeiro por corrente,
Viu transformar-se espaço limitado
Em dor profunda e transparente.
Desprendeu-o do sonho famigerado
A realidade nova, sentido diferente,
O caminho que lhe fora pré-pogramado
Parece um sanatório de pseudocontentes.
A atmosfera é um circo incendiado
E no centro do picadeiro, um somente,
Vendo loucos correrem para todo lado
Semeando fogo pelo ambiente.
Renasce com ímpeto cicatrizado,
Pela glória que está ausente
Desde o fim dos tempos profetizado
Entre os poucos sobreviventes
Da mera especulação no passado
Sobre possíveis acidentes,
Sobre um mero risco comungado,
Para se declarar, solenemente,
Imortalizado.
(NOGUEIRA, André)